
Congresso Farol 2025 — relato completo, acessibilidade, pontos fortes e o que pode melhorar 💙
Resumo rápido: Dois dias intensos, muito conteúdo sobre autismo, desenvolvimento infantil e CAA; excelentes palestrantes (muitos com experiência direta com TEA, seja por diagnóstico próprio ou de familiares); boas trocas — e oportunidades claras de melhoria em acessibilidade e organização. Abaixo, meu relato honesto, com dicas construtivas para a próxima edição. ✨
Site oficial do congresso: congressofarol.com.br • Local: CentroSul
O que você vai encontrar neste post
- Chegada, acesso e credenciamento
- Acessibilidade do espaço (sinalização, elevadores, banheiros)
- Salão principal: assentos, palco e recursos sensoriais
- Conteúdo e palestras: o melhor da programação
- Sala de descompressão e Escape Room
- Alimentação e intervalo: filas e seletividade alimentar
- Público, clima geral e minha experiência
- Sugestões de melhoria para 2026
- Conclusão + convite para conversar
Chegada, acesso e credenciamento 🧭
O evento aconteceu no Centro de Convenções CentroSul (site.centrosul.net). Por ser um equipamento público e frequentemente utilizado em eventos oficiais, a expectativa é de padrões elevados de acessibilidade — sinalizações robustas, rotas claramente demarcadas e atendimento preferencial bem estruturado. Ao longo do post comento pontos positivos e o que pode evoluir.
Foram dois dias bem intensos, com muito conhecimento compartilhado, inúmeras palestras e um público grande. Logo na chegada, confesso que fiquei apreensiva com a quantidade de pessoas e com algumas falhas de organização na entrada.
O processo era: primeiro, falar com um atendente e informar o CPF; depois, dirigir-se ao balcão para retirar o kit de boas-vindas. O problema é que não havia fila definida e quase nenhuma sinalização — formava-se um “ajuntamento”. No balcão, as divisões por letras estavam indicadas em plaquinhas pequenas e escritas à mão, o que dificultava a leitura à distância e aumentava a ansiedade de quem precisa de previsibilidade e orientação visual clara.
Atraso no primeiro dia: o início da programação atrasou bastante, o que gerou desconforto: toda a agenda do dia ficou empurrada e o término também acabou mais tarde do que o previsto. Para quem organiza rotinas com antecedência (sobretudo pessoas autistas e famílias), a pontualidade impacta diretamente a experiência. ⏰
Estacionamento: o estacionamento era pago à parte (cobrança do local), ao ar livre, e custou R$ 40. Não havia vaga reservada para pessoas com deficiência nem isenção. Além disso, a pavimentação era de pedrinhas/areia, com trajeto relativamente longo até a entrada, o que torna a locomoção difícil para usuários de cadeira de rodas e para quem tem mobilidade reduzida. 🚗♿
Acessibilidade do espaço: sinalização, mobilidade e banheiros ♿
Nas áreas superiores — onde ficavam o salão central, salas auxiliares (workshops), sala de descompressão, banheiros, Escape Room e expositores — nos orientaram a usar as escadas. Somente ao perguntar depois fui informada de que existiam elevadores. Faltou sinalização clara indicando elevadores e rotas acessíveis. ✅ Sinalização visual e mapas simples fazem muita diferença para reduzir estresse logo no início. Em um centro de convenções público, esse deveria ser um padrão permanente.
Um ponto positivo: as escadas tinham piso tátil em cada patamar, ampliando a segurança e a autonomia de deslocamento para pessoas com deficiência visual. 👣
Banheiros: tinham adaptações e, diante do público majoritariamente feminino, a organização transformou um banheiro masculino em feminino — solução prática e alinhada ao contexto. Também havia placa em braile. Esses cuidados contam muito. 🚻
Salão principal: assentos, palco e recursos sensoriais 🎤
No salão principal, as cadeiras eram estofadas, porém bem próximas umas das outras, sem descanso de braço e sem áreas reservadas para PCD. A ocupação era por ordem de chegada. Em eventos cheios, espaço pessoal e opções de assentos (com mais distância, com ou sem braço) ajudam muito a reduzir sobrecarga sensorial e ansiedade.
O palco era grande, com bons recursos visuais e auditivos. Entretanto, não houve intérprete de Libras nem recursos voltados a pessoas com deficiência visual (como audiodescrição ou materiais acessíveis disponibilizados por QR Code). Para um congresso sobre inclusão, isso precisa entrar como prioridade na próxima edição. 🧩
Fotos com palestrantes: no momento das fotos, nem sempre havia alguém do staff disponível para ajudar a registrar, então o público precisou revezar e tirar as fotos uns dos outros. Além disso, nem todos os palestrantes compareceram aos momentos de fotos e os horários não foram amplamente divulgados, o que gerou dúvidas e pequenas aglomerações. 📸
Conteúdo e palestras: muita qualidade e acolhimento ✨
A programação foi rica e diversificada, com palestras de alto nível. Os(as) palestrantes foram cordiais, atenciosos e acessíveis — inclusive para fotos no pós-palco e para trocar dicas específicas. 💬📸
Destaque importante: vários(as) palestrantes possuem TEA ou têm familiares no espectro. Essa bagagem pessoal tornou as falas ainda mais enriquecedoras e poderosas, reunindo ciência, experiência e afeto — um encontro que faz toda a diferença quando falamos de autismo e desenvolvimento infantil. 🧩💙
A curadoria conseguiu equilibrar aspectos técnicos com vivências, o que aproxima o conteúdo da prática. Para quem atua com TEA e para quem vive o autismo no dia a dia (como eu), há muito valor em ouvir perspectivas diferentes e construir pontes entre evidências e humanidade.
Sala de descompressão e Escape Room 🌿🧩
Havia uma sala de descompressão organizada pela Spider, com recursos sensoriais como abafadores, opção de luzes desligadas, balanço, piscina de bolinhas e outros itens (mostro nas fotos do post). Para quem precisa dar uma pausa do excesso de estímulos, isso faz diferença real. 🌱
Também havia um Escape Room com criptogramas — uma experiência lúdica e reflexiva sobre a comunicação de pessoas que não falam. A proposta foi criativa, promoveu empatia e gerou conversas importantes. 👏
Alimentação e intervalo: filas, preço e seletividade alimentar 🍽️
O horário de almoço foi o ponto mais crítico da logística. Havia apenas um restaurante com valor de R$ 68 por pessoa (sem bebida) — considerado alto por muitos — e uma fila extensa. Além disso, existiam somente três food trucks pequenos no estacionamento (sem fila preferencial) e poucos lugares para sentar. O resultado: gastamos toda a 1h de intervalo só esperando para fazer o pedido em um food truck. 😵💫
Comunicação tardia: as informações sobre como seria a alimentação chegaram por e-mail apenas 1 ou 2 dias antes. Eu mesma precisei perguntar antes, pois ainda não tinham divulgado oficialmente. Para quem organiza rotina com antecedência (seletividade alimentar, crianças, horários de medicação etc.), essa informação precisa chegar com maior antecedência e estar centralizada nos canais do evento.
Não encontrei informações sobre seletividade alimentar (alérgenos, opções sem glúten/lactose, infantis, etc.). Em eventos com público neurodiverso e famílias, isso precisa ser previsto com carinho e comunicação clara nos canais oficiais. 🧾
Público, clima geral e minha experiência 🧑🤝🧑
Percebi que a maioria do público era formada por profissionais que atuam com pessoas autistas, mas havia também pessoas autistas — como eu. Senti falta de algumas considerações específicas para nós, sobretudo nas filas, assentos e sinalização. Ainda assim, foi uma boa experiência: aprendi muito sobre TEA e, também, sobre mim mesma. Saímos de lá inscritos para 2026! 💫
Sugestões construtivas para a próxima edição (2026) 🛠️
Como participante e como profissional do turismo inclusivo, deixo sugestões práticas e realistas que podem elevar a experiência de todos:
1) Acesso e estacionamento
- Vagas reservadas para PCD próximas à entrada e registro de isenção quando aplicável.
- Pavimentação acessível (ou passarelas) do estacionamento à entrada; evitar pedrinhas/areia.
- Sinalização externa indicando rotas acessíveis e pontos de embarque/desembarque.
- Mapas simples enviados por e-mail e exibidos em totens na chegada.
2) Credenciamento e filas
- Filas preferenciais claramente demarcadas (piso e placa) e staff dedicados.
- Totens alfabéticos altos, legíveis e padronizados (evitar plaquinhas à mão).
- Horários escalonados ou fast track para quem sinalizar necessidade (ex.: Sunflower Lanyard 🌻).
3) Sinalização interna e rotas
- Placas grandes com texto + pictogramas, contraste alto e setas consistentes.
- Indicação visível dos elevadores e rotas acessíveis desde a entrada.
- QR Codes com mapa acessível, descrição das salas e horários.
4) Salas e assentos
- Áreas reservadas para PCD com variedade de assentos (com/sem braço, maior espaçamento).
- Espaços de alívio sensorial no salão (micro-zonas silenciosas).
- Capacetes abafadores para empréstimo, quando possível.
5) Acessibilidade comunicacional
- Intérprete de Libras nas principais sessões e legendagem em tempo real (CART).
- Audiodescrição de conteúdos-chave e slides disponibilizados em formato acessível.
- Materiais pré-evento explicando a dinâmica do dia, fluxos e locais de pausa.
6) Descompressão e sensorial
- Manter e ampliar a sala de descompressão (mais de uma unidade, quando possível).
- Kits sensoriais de empréstimo (fones abafadores, óculos escuros, brinquedos táteis).
- Horários de menor estímulo (luzes mais baixas, som reduzido) em áreas comuns.
7) Alimentação e tempo de intervalo
- Mais opções de alimentação (inclusive cardápios adaptados e preços variados).
- Comunicação prévia sobre alérgenos e opções (sem glúten, sem lactose, infantil, vegetariano/vegano).
- Intervalo maior ou escalonado, para evitar filas longas.
- Áreas extras para sentar (mesas comunitárias, bancos com encosto e apoio de braço).
8) Sinalizadores de necessidade
- Disponibilizar (ou apoiar o uso do) Cordão de Girassol (Sunflower Lanyard) 🌻 e símbolos de comunicação quando solicitados pela pessoa.
- Equipe treinada para reconhecer esses sinais e oferecer ajuda sem invadir.
9) Comunicação e pré-evento
- E-mails com roteiro visual (mapa, fotos dos acessos, como funciona o credenciamento, onde ficam os elevadores).
- FAQ de acessibilidade público e atualizado.
- Canal rápido para dúvidas no dia (WhatsApp/Telegram) com resposta ágil.
- Confirmar pontualidade e avisar com antecedência caso haja ajustes de cronograma.
- Divulgação clara dos horários de fotos e presença confirmada dos palestrantes.
10) Segurança e emergência
- Planos de evacuação acessíveis e comunicação clara por áudio + visual.
- Treinamento básico para staff/voluntários em abordagem inclusiva.
- Equipe dedicada para fotos em horários de meet & greet, evitando filas e improvisos.
Conclusão: aprendizados e convite para diálogo 💬
No balanço geral, o Congresso Farol 2025 foi muito enriquecedor. A programação entregou conteúdo de qualidade, os palestrantes foram solícitos e a atmosfera de troca esteve presente. O fato de muitos palestrantes terem TEA ou familiares no espectro deu um tom poderoso e autêntico às discussões.
Ao mesmo tempo, há chances reais de melhorar a acessibilidade e a organização em pontos-chave — do estacionamento às filas, da sinalização às opções de alimentação (com comunicação enviada com mais antecedência), da pontualidade do início às equipes de apoio em momentos de fotos. Em um centro de convenções público, essas melhorias são esperadas e possíveis.
Como pessoa autista e como profissional que trabalha com turismo inclusivo, celebro o que deu certo e deixo aqui uma lista de ações viáveis e implementáveis para 2026. Estamos inscritos e na torcida para uma edição ainda mais acolhedora! 💙
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